Manual
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Raras as vezes que escrevo algo que não seja técnico mas afinal, um blog pessoal deixa o autor livre para o tema, hum? Mas acho que esse artigo deverá mexer com o ego de muita gente.
Desde o princípio, a humanidade tem evoluído com base no conhecimento acumulado e em descobertas. As pirâmides, que tem sido tema de ufólogos, tendo sido construídas há milênios, são um ótimo exemplo da aplicação científica com os recursos precários da época. Mas calma, não vou escrever uma bíblia, é só uma referência do uso das habilidades neurais.
No começo da indústria, montes de processos eram linha de montagem, feitas por empregados; pintura, estamparia etc. Antes ainda, o vidro era soprado, então virou um processo industrial, com máquinas simples fazendo parte das tarefas. As garrafas antigamente usavam rolhas, então criaram um isolante que permitiu a estamparia de lacres metálicos (as tampinhas). Com o crescimento da indústria, os processos foram se aperfeiçoando mecanicamente e não há mais interação humana em nenhuma parte da produção das bebidas mais populares, como os refrigerantes, que hoje usam tampas de rosca plástica em garrafas PET. O que aconteceu com os humanos que trabalhavam nessas linhas de produção?
Todo esse processo evolutivo se deu através de dois fatores importantes; o estudo e a aplicação. Para aplicar conhecimento, deve-se vislumbrar uma condição na qual se possa empregar um recurso, recurso esse muitas vezes inexistente, daí a criação.
Enquanto engenheiros passaram anos e anos estudando e se especializando, as pessoas que trabalhavam em processos manuais continuaram em busca de serviços manuais. Não vamos entrar nos méritos sociais. A ideia básica desse texto é discorrer sobre uma das muitas visões sobre a evolução da humanidade.
As divisões sociais se dão por diversos motivos, mas para que haja consumo, precisamos ter consumidores. Em contrapartida, não podemos deixar de evoluir devido ao ritmo da humanidade. Consumo é a base do mundo capitalista e a meritocracia é a motivação para evoluir.
Enfim, chegou a era da computação. Passamos de cálculos manuais, por Facit (imagem a seguir), calculadoras e por fim, o computador.
As máquinas agilizaram os processos em diversos seguimentos; carros, aviões, indústria, agricultura. Já o computador, ah, o computador!
Lembro-me da resistência das pessoas em aderir aos novos procedimentos nos anos 80. Muitos preferiram ser demitidos do que aprender usar o computador. É fato, eu vi isso. Os que permaneceram tiveram destaque em sua função, ainda restrita aos utilizadores com um conjunto mínimo de conhecimento necessário para operar.
As coisas evoluíram e o computador tornou-se pouco a pouco um padrão na vida das pessoas. Inicialmente, um item doméstico, principalmente com a chegada da Internet. Mas surgiu a necessidade de mobilidade, contando que trabalhos poderiam ser feitos em casa e levados para o serviço; os disquetes não eram mais suficientes, então surgiram os CDs, que também ficaram pequenos e deram lugar aos DVDs. Entre os prós e contras, acabou surgindo a primeira melhor opção do mercado - o pendrive! Uma memória não volátil com capacidade inicial já superior aos disquetes e para resumir essa parte, hoje temos pendrives e SDs card maiores que qualquer mídia de armazenamento que dependesse de um leitor mecânico. Com isso, restou apenas um item a substituir no computador, sendo o HD. E temos hoje o SSD, que carrega o sistema para o computador em um piscar de olhos.
As evoluções durante o período incluíram o co-processador matemático internamente na CPU, velocidades de memórias RAM extremamente superiores, capacidade de processamento extraordinária e então temos ainda o processamento em GPU, que nos levou a todos para um nível maior.
Hoje qualquer pessoa pode construir em sua casa uma inteligência artificial com machine learning, baseado em models prontos, bastando montar seus datasets. Claro que a maioria das pessoas sequer sabe o que é GPU, mas já é um recurso ao alcance da maioria da população com qualidade financeira minimamente estável (porque estou considerando os compradores de smartphones em 12 parcelas gigantescas).
E de que forma a ciência da computação tem ocupado espaço em diversas outras áreas da ciência?
Os computadores atuais tem uma capacidade de processamento muito maior do que qualquer coisa que possamos precisar resolver nele como indivíduos. Agora fomos nós que ficamos lentos para o computador. E todo esse processamento sobressalente?
Existem muitas áreas que problemas tradicionais não tem sido possíveis de se resolver simplesmente com o raciocínio humano. E não é algo recente, tanto que coisas grandiosas são feitas por equipe, são raros os gênios da humanidade que conseguem entregar coisas incríveis. A maioria das criações são projetos elaborados por equipes compostas por especialistas de diferentes ciências e saímos da linha de montagem manual de carros para os processos autônomos industriais, provendo tecnologia em todos os aspectos outrora nunca pensados.
Os muitos operários foram substituídos não pelas máquinas, mas por uma equipe menor de pensadores, capazes de criar processos ágeis para atender ao novo ritmo do mundo.
Não penso que a mente humana tenha limites, mas certamente está sujeita à dimensão de tempo. Daí entramos em outra questão; nosso tempo é finito e precisaríamos então de uma forma para compensar esse déficit.
O aprendizado de máquina é uma forma de inteligência artificial com uma especialização. Ela não resolve (pelo menos não hoje) todos os problemas de diferentes áreas, mas ela é muito mais eficiente que o ser humano para resolver questões complexas em menor tempo e com margem de erro extremamente inferior.
Como todas as evoluções, assim como extinguiu-se a profissão do telégrafo, também surgiu a profissão da telefonista, que transferia ligações em centrais. Eu cheguei a ver isso também. Mas hoje temos Unidades de Resposta Audíveis para interagir com o ser humano, tornando outra vez um processo lento em processo ágil. Da mesma forma, as profissões de linha de montagem que estão morrendo dão lugar a uma nova semente; o cientista de dados - um especialista que faz extração de dados para diversos segmentos da ciência, como por exemplo, machine learning.
Desde o início da era da computação, muitas foram as evoluções, desde componentes eletrônicos para montagem de circuitos, circuitos integrados e a parte abstrata, as linguagens de programação. Enquanto o mundo se esforça para entregar mais nos conceitos atuais, outra equipe reduzida de pessoas trabalha para uma quebra de paradigma, com a inserção da computação quântica na ciência da computação. Ainda não há um computador sequer que consiga manter o estado quântico permanente (pelo menos até 2019, mas o Google já atingiu a supremacia quântica). Sem dúvidas, em algum momento isso será possível, então entraremos em uma nova era, onde todos os conceitos se renovarão de forma sem precedentes.
Há pelo menos 25 anos tenho estudado dioturnamente (e quase se desconsidera uma hipérbole nessa afirmação) juntando novos conhecimentos e aperfeiçoando os já adquiridos. A ciência da computação é sedutora e traiçoeira; com décadas de experiência, a cada ano que passa estou cada vez mais em pé de igualdade com gerações mais novas, que já nasceram na era digital, que evoluem como todos os seres do planeta e que têm mais facilidade e agilidade para aprender. Enquanto nos afastamos no tempo, ainda com muito esforço caminhamos lado a lado no conhecimento, até que a natureza faça-se determinante na divisão dos caminhos. E isso é bom ou ruim? - Acredito que para a humanidade no momento atual é irrelevante, como explico adiante.
Até mesmo nos trabalhos braçais ainda existentes, como o serviços de pedreiros (que em dado momento serão substituídos também - vide a casa feita em 3D em 24h), pelas mesmas razões serão substituídos os tecnólogos; o desgaste do corpo e da mente. Mas seja como for (e agora acho que causará impacto minha afirmação), tudo o que sabemos hoje não é nada. Do mesmo modo que aprendemos matemática na escola e a levamos para a vida, um dia a ciência da computação deverá ser parte integrada das matérias escolares, desde o ensino básico. Isso porque nossa principal função hoje é moldar o que existe, aperfeiçoar, provar o que surgir de novo, mas nada disso é estável; tudo o que sabemos hoje será substituído por novos conceitos, novos modelos, novos processos. No momento em que houver um mínimo de estabilidade na ciência da computação, ela passará a ser estudo instrumental. Um ótimo exemplo é do projeto Genoma, uma base de sequenciamento genético da USP, na qual tive a honra de conhecer o Dr responsável pela estrutura tecnológica - Um geneticista responsável pelo parque tecnológico, onde atuei na recuperação do sistema de arquivos em uma falha de hardware em 2014. Assim será aplicada a tecnologia no futuro; como ferramenta, implementada pelo detentor do conhecimento na qual ela se aplica.
Tenho orgulho do que sei, mas tudo o que sei é nada. Somos dependentes de terceiros que necessitem de nossos préstimos. Hoje somos os operários da linha de montagem aguardando pela inevitável transição, na qual teremos que nos adaptar para novas ocupações profissionais, uma vez que seremos substituídos não por máquinas, mas por humanos mais capacitados, utilizando a matéria de tecnologia do ensino médio em seu trabalho.
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Autor do blog "Do bit Ao Byte / Manual do Maker".
Viciado em embarcados desde 2006.
LinuxUser 158.760, desde 1997.